Ciências do Desporto

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Futebol como «chave» de uma vida saudável
UP integra projecto dinamarquês para investigar
o potencial desta prática desportiva na saúde
2010-04-15

Por Carla Sofia Flores


Futebol deve ser encarado como uma boa forma de cuidar da saúde. A prática de futebol não é direccionada apenas a profissionais, sendo vista como algo que proporciona momentos de lazer e diversão a todos aqueles que gostam de dar uns "toques na bola". No entanto, um projecto de investigação iniciado na Dinamarca, mas que alberga vários países, inclusivamente Portugal, pretende ir mais além e averiguar os benefícios do ”desporto rei” em vários campos da saúde.

Neste sentido, a Universidade do Porto (UP), nomeadamente através das faculdades de Desporto (FADEUP) e Medicina (FMUP), vai colaborar com duas investigações que pretendem avaliar a prática de futebol recreativo como meio de combate ao sobrepeso e obesidade de crianças e jovens entre os oito e 18 anos e como meio de diminuição dos factores de risco de doenças cardiovasculares de indivíduos adultos sedentários do meio empresarial. 

O Ciência Hoje falou com António Natal Rebelo, um dos investigadores da FADEUP envolvidos no projecto, que nos explicou que com esta iniciativa pretende-se "explorar o potencial enorme do futebol, levando as pessoas à sua prática, não só como uma diversão, mas também como forma de cuidar da sua saúde".

Segundo o especialista, os desportos com bola são mais benéficos para a saúde do que a corrida, por exemplo. "Comparativamente com a corrida, as práticas desportivas com bola apresentam maiores níveis de tensão sobre o sistema musculo-esquelético, pelo que o exercício intermitente induz a este nível maiores vantagens do que o exercício contínuo", refere.

Neste sentido, os estudos que António Natal Rebelo, André Seabra, António Ascensão e José Magalhães, da FADEUP, e Carla Rego, da FMUP, vão realizar a partir de Setembro deste ano vão abranger dois alvos que ainda não foram estudados: crianças e executivos em campo.

Neste estudo, crianças realizarão dois ou três treinos semanais. No caso das crianças, será realizado um programa de futebol no âmbito escolar que consiste em dois ou três treinos semanais de uma hora, ao longo de dez meses, no sentido de se estudar o combate ao sobrepeso.

Na opinião deste especialista, o facto de se pensar que não é muito importante praticar futebol no ambiente escolar, por ser uma actividade vastamente praticada fora desse meio, faz com que "na escola o futebol não esteja a ser totalmente explorado", tendo em conta que "é uma prática indutora de boa saúde". Como tal, visto que é um desporto que as crianças apreciam, "devia aproveitar-se esse balanço e dar-lhes a possibilidade de o praticarem com maior frequência, retirando benefícios para a sua saúde", acrescenta.

Já no que respeita aos indivíduos de empresas, o plano de actividades decorrerá nos mesmos moldes. No entanto, o objectivo é perceber os benefícios desta prática desportiva sobre os factores de risco cardiovasculares, adianta o docente da FADEUP.

António Natal Rebelo sublinha que a abertura ao futebol como prática promotora de uma boa saúde "não acontece de um momento para o outro, mas paulatinamente vão-se abrindo portas nesse sentido", pelo que até o presidente da UEFA já deu um parecer positivo sobre os resultados que têm sido obtidos.

Deste projecto internacional de investigação liderado por Peter Krustrup, do Departamento de Exercício e Ciências do Desporto da Universidade de Copenhaga, já resultaram 14 artigos científicos, sendo que, até ao final do ano, se espera que este número aumente para 20, admitiu António Natal Rebelo.

Os estudos realizados até então com pessoas dos dois sexos e de faixas etárias diferentes já averiguaram os efeitos do futebol sobre a força muscular, o equilíbrio postural, a densidade mineral óssea e a resposta reflexa a um impulso súbito nas costas, tendo-se obtido resultados positivos em todos esses aspectos.

Estas melhorias podem ser de interesse particular para um grande grupo de mulheres, mas também para homens idosos, na medida em que o risco de quedas e fracturas aumenta com a idade em resultado do enfraquecimento dos ossos, da perda de equilíbrio e da diminuição da capacidade para desenvolver força muscular rapidamente.

Neste projecto financiado pelo Centro de Avaliação e Investigação Médica da FIFA (F-MARC) e por várias entidades dinamarquesas, colaboram meia centena de investigadores de sete países que estudam os aspectos físicos, psíquicos e sociais do futebol, sendo que os resultados são notáveis.

Estes especialistas pretendem também examinar o efeito do futebol noutros grupos de pacientes, tal como indivíduos com diabetes tipo II e cancro, sendo que planeiam ainda estudos de acompanhamento sobre os efeitos a longo prazo da prática do futebol nas primeiras fases da osteoporose e na hipertensão arterial para homens e mulheres de meia-idade, bem como os efeitos na saúde cardíaca e músculo-esquelética do futebol juvenil.